Será que somos bons pais?
Esta é uma indagação contemporânea.
Há 30 ou 40 anos atrás, os
pais não tinham dúvidas sobre o assunto.
O papel deles de autoridade maior e de
provedores dava-lhes direitos inquestionáveis sobre a prole.
Não só o pai, mas
a mãe também. Embora mais doce e terna, geralmente ocupada com a administração
da casa, representava o segundo comando, controlando o dia-a-dia dos filhos.
Mas, de lá pra cá, o contexto familiar se transformou. Pai e mãe
estão no mercado de trabalho, ambos são provedores materiais da casa, a
autoridade dos pais se igualou e o apoio familiar propiciado por tias,
madrinhas e avós disponíveis, raramente existe.
A vida ficou mais complexa, os bairros mais perigosos, as crianças
mais confinadas em apartamentos equipados com videogames, tevês, internet,
DVDs, celulares, e as atividades infanto-juvenis passaram a ter agenda: cursos,
aulas, academias, etc., o que exige mais ganhos e implica mais trabalho.
Para o psicanalista José Carlos Zanin “as mudanças sociais foram
tão grandes e profundas que, não raro, os adultos sentem-se perdidos no que diz
respeito à educação das crianças.
Os filhos, expostos a todo tipo de influência
e informação e estimulados por uma educação também mais participativa são
surpreendentemente mais espertos, mais ousados e imaginativos do que seus pais
na mesma idade, fazendo com que os seus referenciais, vividos com os próprios
pais, não sirvam muito de modelo”.
Muitos pais, meio encantados e assustados, se sentem receosos em
estabelecer limites, tentando parecer modernos e evitando ser tachados de
autoritários. Entretanto, não há como fugir da realidade: os filhos precisam de
orientação, presença, exemplos, referenciais, e isto representa certa
autoridade (no sentido de saber, conhecer - não de autoritarismo), acrescenta o
psicanalista.
Zanin lembra que é inevitável também reconhecer que o ritmo de
vida mudou tanto para os adultos quanto para os jovens e há urgência em tudo
que se faz hoje, como se cada coisa fosse a derradeira, e cada oportunidade, a
definitiva. “Vivemos a cultura do imediatismo e do consumismo - males de nossos
tempos.
Diante da pressão dos filhos, os pais tendem a render-se, pois não
querem decepcioná-los, nem ser responsáveis pelas suas frustrações”.
Assim, em muitos casos, os pais ficam reféns das vontades dos
filhos: cedem, se sacrificando mais do que o necessário, para dar quase tudo
que eles “precisam”, ou cedem, passando a mão por cima, face a comportamentos
incorretos, pouco sociáveis e que prejudicam sua educação.
Em outros, os pais estão tão ocupados com suas próprias
preocupações e anseios que preferem acreditar (mas não comprovar) que os filhos
estão bem e são independentes como requer o mundo de hoje.
Certamente, pondera o psicanalista, o equilíbrio é difícil e exige
além de muito amor, maturidade e valores bem definidos para não deixar que as
carências, dificuldades pessoais, ansiedades adultas e modismos norteiem a
relação com os filhos.
- Não há uma fórmula em educação, por isso é difícil, senão
inadequado, falarmos em bons pais. Contudo, pode-se dizer que o ingrediente
mais importante é o amor que educa, que sabe dizer “não” sem culpa, porque faz
parte da vida lidar com a falta, com a frustração e com as “interdições”.
Os
obstáculos podem ensinar a esperar, a buscar alternativas de prazer e
satisfação, a valorizar o conquistado e a descobrir que nem tudo é possível e
está disponível, quando se quer.
Logo, o amor saudável não pode satisfazer sempre. É preciso que
prevaleça o bom-senso na educação, a relação respeitosa entre os pais e entre
pais e filhos, a imposição de limites e o diálogo, que traduzidos em
comportamentos, equivaleria a algo como:
• estar presente na vida dos filhos, acompanhar as atividades que
desenvolvem, conhecer seus amigos e, sempre que possível, os pais deles
• saber aonde os filhos estão e, da mesma forma, mantê-los
informados aonde seus pais podem ser encontrados
• proteger os filhos de uma liberdade prematura para a qual
não estejam preparados ou que não tenham idade para se defender
• nunca punir quando estiver irado, nem humilhar com críticas na
frente dos outros. A opinião dos pais tem muito peso para as crianças por isto
é preciso não ser excessivamente crítico.
• viver aquilo que ensinam, para que os filhos possam se espelhar
no exemplo familiar
• ter tempo para o divertimento em família no final de
semana, participando das atividades da garotada, quando for chamado
• ter tempo para ouvir o que os filhos têm a dizer, mesmo
que suas razões possam parecer tolas e ingênuas aos adultos
• elogiar as pequenas conquistas, vibrar com suas vitórias e
animar nos fracassos, para que superem as dificuldades
• fazer com que eles se sintam membros importantes da família
• compreender os anseios e angústias, mas frustrar e colocar
limites quando necessário
• não expressar autoridade com agressividade. Ser honesto nas
explicações: se achar que seu filho ainda não tem maturidade para viajar com o
grupo de amigos, diga o que pensa e mantenha-se firme. Ele ficará aborrecido
por uns dias, mas depois passa
• cumprir o que promete ou então não prometer
• respeitar a mãe dele e, no caso dela, respeitar o pai dele, se
estiverem separados, pois o filho continuará sendo de ambos
Enfim, muitas ações poderiam ainda ser citadas destacando o amor
maduro dos pais por aqueles cuja segurança física, afetiva e emocional depende
deles: seus filhos.
As crianças e jovens de hoje podem revelar inteligência e
conhecimento maiores porque o cérebro estimulado permite que isto aconteça,
contudo a maturidade só chega no momento próprio e enquanto não ocorre, cabe
aos pais protegê-los.
Mas não há perfeição. Tropeços fazem parte do processo, assim como
as constantes correções...